Consequências da CBDC

Nos últimos meses foi notório, vários movimentos políticos que estão a colocar em causa a hegemonia do dólar a nível internacional, poderá demorar décadas para perder essa liderança. Mas a origem do problema/desconfiança do dólar, deve-se exclusivamente à política interna e à sua desastrosa política monetária.

A dívida está estratosférica, quase impagável

A desvalorização da moeda está sendo outra desgraça.

Mas esta impressão louca de dinheiro, em especial nos últimos anos teve um efeito extremamente perverso, a inflação não foi só sentida nos EUA, foi “exportada” para o resto do mundo. O mundo inteiro está a pagar, a sofrer as consequências da desastrosa política monetária americana.

Dolarização pelo mundo

A perda gradual de poder de compra do dólar está a afectar indirectamente todos os países do mundo, mas existem grupos de países que também são afectados directamente.

Grupo A: Países com US$ como moeda oficial:

  • Timor-Leste;
  • Equador;
  • El Salvador;
  • Panamá;
  • Zimbabwe;
  • Estados Federados da Micronésia;

Grupo B: Territórios dos EUA, mas que não são incorporados fisicamente ao país:

  • Porto Rico;
  • Guam;
  • Ilhas Virgens dos Estados Unidos;
  • Samoa Americana;
  • Comunidade das Ilhas Marianas do Norte;

Grupo C: Países que fazem uso do dólar em suas transações, mas que não houve a sua oficialização como moeda local:

  • Ilhas Virgens Britânicas;
  • Ilhas Marshall;
  • Palau;
  • Ilhas Turcas e Caicos;
  • República do Zimbabwe;

Grupo D: Moedas oficiais pareadas no dólar americano: 

  • Dólar de Hong Kong (HKD)
  • Rial da Arábia Saudita (SAR)
  • Dirham dos Emirados Árabes Unidos (AED)
  • Dinar do Bahrein (BHD)
  • Rial de Omã (OMR)
  • Riyal do Qatar (QAR)

Estas listas demonstram bem a importância e dimensão do dólar a nível internacional.

Introdução

Como a introdução da CBDC, possivelmente vai criar inúmeros problemas políticos internos e externos para o governo dos EUA. Nesta reflexão, os meus pensamentos apenas vão divagar em problemas políticos e económicos que a CBDC vai criar. Não vou falar da retirada dos direitos básicos que a CBDC vai provocar nas populações, isso já falei bastante anteriormente.

Nos EUA começaram a aparecer os primeiros movimentos cívicos e políticos anti-CBDC, sobretudo no Texas. Eu acredito que será algo muito residual, poderá atrasar um pouco em 2 ou 3 estados, nos restantes rapidamente será implementa.

O poder de influência do governo federal e do Fed, mais tarde ou mais cedo, os estados “desertor” vão aceitar. Se pensarmos bem, como poderão evitar? Vão sair da Federação? Não me parece. Vão criar uma moeda própria? Pouco provável… mesmo que dificultem a implementação, vai chegar o dia que o governo federal vai usar o poder coercivo, ou implementam ou começam a receber menos fundos… em último caso, algum dia um político pró-CBDC vai vencer as eleições nesses estados e vai implementar. Depois de implementado e de retirar o papel-moeda de circulação, torna-se impossível voltar atrás.

Com isto tudo, eu acho que será inevitável a CBDC, apenas um grande revolta popular poderia fazer mudar a ideia dos políticos.

Limitações geográfica

Não sei, se é por eu ser demasiado pessimista, mas eu acredito que as CBDCs vão ter limitações geográficas. Se não existir limitação, o número de utilizadores da CBDC em países com inflação altas, cresceria exponencialmente criando problemas internos nesses países, os políticos perdiam o poder de controlo de capitais e autonomia.

O caso mais gritante seria a Turquia, que é um país aliado nos EUA na Nato, está a sofrer com a inflação, as autoridades turcas iriam exigir o bloqueio da CBCD(US$) para os cidadãos residentes na Turquia e os EUA não vão querer entrar em conflito diplomático com um aliado.

A CBCD é uma arma, os EUA com ela poderia vigiar os cidadão de todo o mundo, os outros países vão combater isso. Possivelmente os EUA, só não vão bloquear aos inimigos “fracos”, como o Irão, Coreia do Norte e Cuba.

Até na China vai estar bloqueada, porque o PCC poderia criar represálias nas exportação e iria abalar a economia dos EUA. Por isso na generalidade vai existir uma espécie de pacto de não agressão, por isso eu acredito que CBDCs ficarão restritas ao seu respectivo aos residentes do respectivo país ou jurisdição. 

Será que estou errado?

Fim da privacidade e do papel-moeda

As CBDCs tem apenas um objetivo, o controle absoluto por parte do estado, saber instantaneamente onde está o dinheiro, quem está a utilizar, onde está a ser utilizado e permitir confisco à distância.

Todas as contas criadas nas CBDCs terão KYC, o governo vai saber, quem é e onde vive(país) cada utilizador. As pessoas que vivam no “estrangeiro” que pretendam usar US$ até poderão comprar nos mercados negros um KYC e/ou usar VPN, mas mais cedo ou mais tarde o governo vão desconfiar, na mínima suspeita vão congelar os fundos e obrigar o cidadão a apresentar mais documentos e presencialmente para descongelar os fundos.

O fim da privacidade terá o seu clímax com o fim de circulação do papel-moeda, isso acontecerá a médio prazo, porque se for um processo muito rápido poderá criar medo à população e os movimentos anti-CBDC ganham força, como aconteceu na Nigéria. O Fed vai retirando gradualmente e silenciosamente as notas de circulação, começando com as notas de maior valor facial.

Consequências no mundo

O US$ é um caso particular das CBDCs, porque não afecta apenas internamente, vai ter consequências directas em outros países. Será que o processo de remoção de papel-moeda será igual, internamente e externamente?

O que vai acontecer aos países do Grupo A e C(lista em cima)?

Vão aceitar ser vigiados e controlados digitalmente pelos EUA? Muitos deles, nem tem infraestruturas para usar a CBDC dos EUA e não vão querer o fim do papel-moeda. Possivelmente a única alternativa é esses países criarem a sua própria moeda e esta ser pareada no dólar, 1 para 1. Vão fazer um sistema similar aos do Grupo D. O problema é, quanto tempo irá durar a paridade 1 para 1, possivelmente só durará até à primeira crise do país, as populações mais pobres serão as mais prejudicadas.

Um outra “alternativa” é o Fed criar uma espécie de dólar colonial, similar ao Franco CFA, com notas e moedas só para esses países. Seria uma das maiores aberrações neste século, mas eu ja vi de tudo, por isso não descarto esta hipótese.

Os do Grupo B irão implementar a CBDC com o mesmo cronograma dos EUA.

Mas existe um outro grupo enorme, que são os da dolarização informal, ou seja, são notas verdadeiras espalhadas pelo mundo, em especial em países africanos e na américa latina. Apesar das políticas de controlo de capitais, as populações utilizam para proteger o seu património da alta inflação, serão certamente muitos biliões de dólares espalhando pelo mundo. Estas notas levaram um longo caminho até chegar a estes países, demorou anos, muitas notas já são muito antigas. Como é que elas “vão voltar” para os EUA?

O que fará os EUA com isto?

Apesar de ser notas verdadeiras, isto é mercado negro. Os EUA não poderão cair na tentação de dar um curto prazo para as notas que estão fora do controle direto. Se o processo for rápido, grande parte das notas não vão ser convertidas e vão tornar num pequeno papel colorido sem valor e o FED beneficiará em biliões. As populações serão fortemente afetadas, quem tiver notas irá perder uma parte significativa do seu capital ao entregar as notas nos bancos nacionais ou perderá a totalidade se ficar com as notas.

Como o preço no câmbio oficial é muito inferior ao câmbio paralelo, ou como os argentinos dizem, o dólar blue.

Os governos vai aproveitar dessa demanda de notas e vão baixar ainda mais o cambio oficial para arrecadar divisas americanas.

Stablecoins

Não será só nas CBDCs a ter a obrigatoriedade do KYC, essas regras serão alargadas às Stablecoins, eu não tenho qualquer dúvida que isto vai acontecer. Quem não o fizer irá ficar com as contas congeladas e se não provar a sua identidade, será confiscado pelo estado.

E isto acontecerá conta todas as stablecoin de dólar, mesmo a do Tether, que não tem sede nos EUA. O Fed tem a faca e o queijo na mão, o Tether e os restantes terão que cumprir, se não o fizerem, o Fed pode congelar os bonds pertencentes às empresas, que estão a ser utilizados como colateral. É as consequências de ter criptos “pseudo” descentralizadas mas controladas por uma empresas centralizadas.

Se isto acontecer na prática, onde só endereços com KYC poderão ter acesso ao capital, como funcionarão as DEX e o Defi?

Estas terão um futuro muito negro pela frente, similar ao que já acontece com os Mixers. No caso das stablecoins, bastará cair algum capital num endereço sem KYC, as empresas vão congelar o capital à distância, para as restantes criptos que não permitem o congelamento, esses endereço ficarão mercados, quando um dia esse capital for para uma CEX ou qualquer empresa centralizada, as autoridades batem à porta.

Os reguladores europeus e norte-americanos estão a seguir uma política de terra queimada, vão criar leis tão severas que irão destruir uma parte significativa do atual ecossistema cripto. E depois, tudo o que for criado terá que cumprir esses regulamentos. A regulamentação não tem o objetivo de melhorar o ecossistema cripto, tem apenas o intuito de controlar o sistema, proibir/dificultar a auto-custódia, atacar a descentralização em prol da centralização. Como se provou no último bear market, a maioria dos projectos/empresas que colapsaram eram centralizados, quem tinha os fundos em auto-custódia não teve problemas.

Espero que num futuro próximo isto melhore, possivelmente as criptos vão sair do foco dos políticos/burocratas, existe um novo “hype” tecnológico, a Inteligência Artificial. Aqui sim é um problema, mais que uma tecnologia disruptiva, é uma tecnologia que poderá ser destrutiva, que irá provocar consequências terríveis a nível social. 

Tudo o que eu disse aqui não é uma recomendação de investimento, é apenas uma opinião pessoal, possivelmente contém muitos erros, mas é a minha opinião, por enquanto ainda tenho o direito de a ter.