Esta reflexão tem como ponto de partida, dois estudos que são referentes aos EUA, mas certamente será muito semelhante no resto do mundo, especialmente nas grandes economias ou no mundo ocidental.
Distribuição do Bitcoin
Este estudo tem vários pontos muito interessantes;
- Quanto maior a escolaridade, maior a adoção.
- Não surpreende a elevada percentagem dos libertários.
- Além dos libertários, em 2° estão os Independentes, demonstra descontentamento do atual sistema político.
- A percentagem de mulheres já é mais relevante, em estudos anteriores (a nível mundial) as percentagens de mulheres era residual, possivelmente é devido à baixa utilização de mulheres no oriente, como são países muito populosos, desvirtua os resultados.
Mas eu vou debruçar mais na parte das diferenças entre gerações. Neste estudo, como em muitos anteriores, é notório uma grande discrepância entre as gerações, quanto mais velha for a geração, menor é a adopção de Bitcoin.
O porquê da baixa adoção pelos mais velhos?
1. À primeira vista, leva-me a pensar que é devido à infoexclusão, os mais velhos são mais adversos às novas tecnologias. Nos casos das pessoas com mais de 70/75 anos é provável ser verdade, uma parte grande destas gerações nem smartphone tem.
Mas se analisarmos bem, no caso das pessoas com 60 a 70 anos, uma grande parte já têm smartphones, utilizam todos os dias, não são infoexcluídos mas mesmo assim não tem bitcoin.
Um bom exemplo foi o PIX no Brasil (similar ao MBWAY), onde existiu uma adoção muito alta (85%, dados de 2022), inclusive pelas pessoas mais velhas (65%), a tecnologia não foi um problema, a necessidade foi mais forte.
2. Outra razão, é que o bitcoin é uma poupança, para médio/longo prazo e como é lógico a maioria destas pessoas, já com uma idade avançada, geralmente não pensam em fazer poupanças a longo prazo. Apenas alguns casos esporádicos, quando estou a fazer uma poupança a pensar nos filhos ou netos.
3. Outra razão, é que as pessoas mais velhas têm muita dificuldade em dar valor a algo que não é tangível. Mesmo aqueles que usam cartões (dinheiro digital), eles sabem que a qualquer momento podem ir a um ATM e trocar por papel-moeda. Isto não acontece com o bitcoin, que é sempre digital.
A tangibilidade é algo geracional, os mais velhos adoram e dão muito valor ao ouro, os mais jovens dão tanto ou mais valor do bitcoin que ao ouro. Os mais novos, que já nasceram com a “internet”, adoram comprar skins de jogos, redes sociais, dão tanto valor ao mundo virtual como ao mundo real. É uma mudança geracional, uns olhavam para o ouro como valor/riqueza, os outros olham como beleza/bijuteria, o ouro vai perderperder força como reserva de valor.
É a soma destes 3 fatores, que justifica a baixa aceitação, para as gerações com mais de 60 anos.
Património
No caso da adoção, como vimos anteriormente, nas gerações mais velhas a adoção é menor, mas quando falamos de poupanças/património é o oposto, as pessoas mais velhas são as que têm maior património.
Idade | Geração | Património | |
<8 | 2015- | – | – |
8 – 28 | 1995-2015 | Geração Z | $14.2 Trillion |
29 – 43 | 1980-1994 | Millennials | |
44 – 59 | 1964-1979 | Geração X | $47.8 Trillion |
60 – 77 | 1946-1963 | Baby Boomers | $78.3 Trillion |
+78 | <1945 | Silent Generation | $18.1 Trillion |
Assim quem tem maior adoção de bitcoin (os jovens) têm menos dinheiro para adquirir, o oposto acontece com os mais velhos, tem dinheiro mas não possuem bitcoin. O problema dos jovens é uma questão de prioridade, estão a iniciar a vida adulta, os primeiros gastos são para um carro, viagens, casa, mais tarde é que pensam em criar uma poupança para o futuro.
Com o passar do tempo, vai acontecer uma transferência de património, os mais velhos falecem e geração posterior (agora a Geração X) vão herdar, certamente vão utilizar parte dessa herança para comprar bitcoin.
Mas a grande “explosão” de aceitação começará na Geração Z, são já nativas do bitcoin e a internet está entranhada na pele.
Sociedade
Os Millennials são a geração charneira, haverá o pré e o pós Millennials (inclusive). As gerações prés, maioritariamente nasceu pós guerra, viveram em paz e na época de maior prosperidade da história da humanidade.
Mas na parte final dessa prosperidade foi e está a ser demasiada alavancada, já é notório os sinais de decadência, que vai acentuar nos próximos anos. A dívida soberana dos países está demasiada elevada, está a entrar numa espiral de dívida, é completamente impagável. Os sistemas de reformas foram criados sobre um esquema de ponzi, que será inevitável a sua implosão devido ao declínio populacional e à contínua destruição do poder de compra da moeda.
Onde possivelmente a única “solução viável” para os governos é um longo período de inflação alta, que será devastador para as poupanças e para os rendimentos dos cidadãos e para a economia em geral.
Serão sobretudo as gerações pós Millennials que terão que pagar os devaneios das gerações anteriores. Mas como viverão estas gerações? Em decréscimo populacional, com uma carga fiscal estratosférica, com uma dívida impagável que herdaram, tem ainda que pagar as pensões aos mais velhos, sabendo de antemão que eles próprios nunca terão uma reforma. Ainda terão que sofrer e resolver o problema da poluição.
Possivelmente será um longo período de revolta social. Basta olhar para o que está a acontecer em França, estão a rejeitar o aumento da idade da reforma para os 64 anos, repito 64 anos. O que acontecerá? O que farão? Quando eles perceberam que nunca vão ter reformas antes dos 70 anos e estas serão tão baixas, que não é suficiente para a sua subsistência.
Os Millennials vão viver nestes dois mundos, nascem num mundo em prosperidade mas depois serão a primeira geração a sofrer as graves consequências.
Apesar de neste momento serem as principais vítimas, estão a ter pouca intervenção política. A classe política em Portugal é muito envelhecida e os poucos que têm menos de 40 anos, são raros os que têm realmente algum cargo de poder e têm geralmente pouca qualidade, são normalmente boys.
Não consigo perceber o porquê? Não sei se é aversão à política ou desinteresse ou falta de oportunidades, a actual classe política é muito fechada e são sempre os mesmo, ano após ano.
Talvez seja um pouco disto tudo… mas eu acredito que ainda estamos a tempo de mudar.
Se a minha geração está a falhar politicamente, eu não vejo que a próxima consiga melhor.
Posso estar a ser preconceituoso, ou talvez seja a síndrome de velhice (nostalgia do passado, “no meu tempo é que era bom”), mas olhando para a Geração Z, não vejo que eles tenham capacidades para resolver este problema Herculano, espero sinceramente estar errado.
Eu olho para estes jovens, comparando com a minha geração (Millennials), têm muito menos espírito crítico, pensamento woke, vivem alheados da realidade (política, económica e social), são muito egocêntricos e preguiçosos, cresceram numa sociedade de facilitismo, pouco exigente, com poucos NÃOs como resposta. Parece uma geração com falta de empatia com o outro, gostam de impor aos outros a sua opinião, não aceitam que os outros podem ter uma opinião, fazem censura colectiva (através de movimento de cancelamento nas redes sociais). E aqueles que saem desse padrão, vão já para as universidades com o objectivo em mente de emigrar, que este país não é para eles. Que raio de país é este, onde os jovens não têm esperança, nem futuro.
Espero que esta minha leitura esteja errada e seja apenas aquele síndrome de velho, recordo-me que o pai dizia o mesmo da minha geração, possivelmente isto é um sentimento cíclico que acompanha todas as gerações.
Mas uma coisa certa, apesar de eu achar que a minha geração, mais capaz, esta não está a conseguir resolver o problema, ainda está a agravá-lo. Esperamos que a próxima geração o consiga e que deixem o mundo melhor daquele que recebeu.