O Sistema FIAT permitiu aumentar substancialmente a qualidade de vida nos últimos 50 anos?

Sim, é verdade, permitiu aumentar a qualidade de vida das pessoas, mas as consequências são tremendas. É verdade que nós temos uma qualidade de vida melhor que a dos nossos avós, mas este aumento da qualidade de vida é insustentável. Se nada for feito, os nossos netos terão a mesma qualidade de vida dos nossos avós, vão retroceder.

Na minha opinião existem duas causas que explicam esse crescimento nos últimos 50 anos, o crédito e a produtividade.

Crédito

O principal factor é o endividamento, o sistema FIAT transformou a sociedade e os governos dependentes de dívida,  altamente endividados, o viver muito acima das suas possibilidades, com uma alta preferência temporal.

No momento em que fazemos um crédito é bom, as nossas contas bancárias ficam com mais dinheiro, podemos comprar muitos bens, a curto prazo ficamos com mais liquidez, mais “ricos” mas é uma ilusão.

A longo prazo temos um problema,  a dívida tem que ser paga e não existe dinheiro para pagar, a única maneira é a austeridade, será necessário baixar o custo de vida para pagar a dívida do passado.

Na prática, o crédito é a antecipação das receitas, é o gastar hoje as receitas do futuro. Só que as pessoas do futuro não terão receitas, serão gastas para pagar as dívidas do passado, vão viver do quê?

Este é o problema, os políticos responsáveis pelo crescimento, hipotecaram o futuro dos seus netos, o viver acima das possibilidades é insustentável.

Se nós olharmos para a qualidade de vida, no período entre os 20 e 30 anos, o período da emancipação, nas diversas gerações: Quem tinha essa idade na década de 1970/1980 foi o principal beneficiado; Os jovens adultos da década de 2000 começaram a notar os primeiros problemas. Hoje em dia, os jovens entre 20 e os 30 anos já estão com muitas dificuldades económicas, em construir uma família, adquirir uma casa, o custo de vida está insuportável. O problema é que ainda vai agravar-se, as próximas gerações, ainda será pior que as atuais.

As dívidas dos países não diminui, só aumenta, os governos só rolam a dívida, apenas estão a adiar o problema, um dia vai rebentar.

Produtividade

O desenvolvimento tecnológico foi tremendo nos últimos 50 anos, ajudou para o aumento da produtividade e consequentemente, a melhoria salarial, melhoria na qualidade de vida das pessoas. Só que as pessoas apenas “receberam” uma pequena parte desse melhoramento, porque uma parte significativa desse aumento de produtividade foi absorvida pelos governos através da inflação da moeda.

Até 1971 (criação do sistema FIAT), o salário do trabalho acompanhou, o aumento da produtividade. Após 1971, acontece uma divergência entre a compensação e a produtividade.

Os governos ao desvalorizar a moeda afetam sobretudo os salários dos trabalhadores. Como as empresas têm uma maior “elasticidade”, permite-lhes mais rapidamente atualizar os preços dos produtos, corrigindo parcialmente a perda de valor da moeda. Enquanto a actualização do salário é muito mais lenta, prejudicando os trabalhadores. 

O desenvolvimento tecnológico, que permitiu que o trabalhador produzisse mais, no mesmo espaço de tempo, essa mais valia, em vez de criar valor nas empresas e nos funcionários, foi essencialmente para os governos.

Neste momento estamos perante outro enorme salto tecnológico, que vai permitir um enorme aumento da produtividade, a AI. Se nada for feito, os governos vão absorver esses ganhos, possibilitando adiar o problema da dívida por mais uma década.

O sistema FIAT cria a iluminação que dá com uma mão, mas depois tira com a outra. 

Quem tem poupanças mais elevadas consegue adquirir bens mais escassos, com uma melhor protecção contra a inflação, como o imobiliário, algumas ações e ouro. 

Mas a classe trabalhadora, principalmente as pessoas com rendimentos mais baixos, acabam por guardar as suas poupanças em moeda. São duplamente afetados, no salário e na poupança.

Agora fica a pergunta, que é impossível responder: Se nos últimos 50 anos, não houvesse sistemas FIAT e se a produtividade tivesse sido repercutida nos salários dos trabalhadores, como estaríamos hoje em dia? Com melhor ou pior qualidade de dia?

A minha convicção é que em qualidade de vida estaríamos um pouco melhor, os governos estariam, sem dúvida nenhuma,  muito melhor e as crianças não teriam o seu futuro hipotecado. As crianças de hoje, que serão os Homem de amanhã, ao responder a esta mesma pergunta, vão dizer: A qualidade de vida seria muito melhor.
É triste, mas é verdade,  a nossa geração e especialmente a geração anterior priorizou o seu bem-estar em detrimento do bem-estar das futuras gerações, hipotecou o futuro dos seus próprios netos, com uma dívida que é impagável. Esses jovens, muitos ainda nem nasceram, terão que pagar os custos de bens ou de obras públicas, que nem existirão no seu “presente”, apenas vão pagar sem usufruir.