A entrevista a Alex Gladstein, da Human Rights Foundation, é algo excepcional, é obrigatório a sua visualização, tanto para os bitcoiners, como para os não bitcoiners.
Na entrevista (na prática foi um óptimo monólogo), Alex fala de inúmeros casos de uso para o #Bitcoin. Concordo com tudo e é esta a minha visão do Bitcoin, uma ferramenta de liberdade para todos, é muito mais do que um mero produto financeiro.
Mas o Alex falou de um pormenor muito interessante que eu nunca tinha pensado, a importância das remessas para hiperbitcoinização.
Eu olhava para as remessas, apenas como um caso de uso de menor importância, com um papel pouco importante para a hiperbitcoinização. Serviria apenas para fazer uma transação financeira internacional, como uma ponte, porque os dois lados dessa ponte nunca ficariam com bitcoin, no fim o destinatário do capital converte tudo em FIAT. As pessoas apenas poupam nas taxas cobradas pelos intermediários financeiros (Western Union e afins).
Esta ideia que eu tinha das remessas é real quando o destinatário vive em países com alto nível de democracia e/ou de liberdade. No caso de países onde a democracia é baixa ou onde existem políticas mais restritivas de circulação de capitais (controle de capitais), as remessas terão um papel importantíssimo para a bitcoinização.
Quando o destino da remessa é um país com controle de capitais, quem efetua a remessa, não só poupa na taxa da Western Union, mas também pode poupar no câmbio, esta parte tinha-me escapado.
Nestes países normalmente existem dois câmbios, o oficial e o das ruas(mercado paralelo), por vezes a diferença é enorme. No caso da Argentina, há pouco tempo, a diferença entre o câmbio oficial e o do paralelo (dólar blue) foi superior a 70%. Milei já reduziu essa diferença, mas antes das eleições, o câmbio oficial era 1 dólar = 300 pesos; mas no mercado paralelo era 1 dólar = 600 pesos.
Isto significa que um argentino a viver no exterior, ao enviar dinheiro para o seu país, por meios convencionais, perdiam metade dessa poupança devido ao câmbio, o governo “desviava” 50% do seu trabalho.
Assim, ao enviar 1000 dólares, chegava ao destinatário apenas 300 000 pesos, mas se utilizasse o bitcoin, o destinatário iria receber 600 000 pesos. Nestas contas não inclui as taxas da Western Union, nem do Bitcoin. Mas uma coisa é clara, existe um enorme benefício para quem utiliza bitcoin, apesar dos intervenientes não quererem bitcoin para si.
Outro ponto interessante das remessas, é a criação de liquidez.
Neste países, devido ao controle de capitais, o acesso ao bitcoin é muito restrito, a compra é proibida, não existem exchanges, comprar no estrangeiro é proibitivo para o comum mortal. Como as pessoas que vivem no país têm dificuldade em comprar bitcoin no estrangeiro, por vezes existem problemas de liquidez, o bitcoin chega a ter um premium.
É neste ponto que entrem as remessas, como os emigrantes normalmente estão a viver em países ocidentais, onde a compra de bitcoin é mais facilitada, eles compram e enviam para os seus familiares, estes ao trocar por FIAT no seu país, criam liquidez, permitindo o acesso a outras pessoas ao bitcoin, ajudando na hiperbitcoinização.
Os governos poderão cortar todas as rampas de acesso, mas o mercado p2p é incontrolável.