No seguimento dos post anteriores, vou continuar a minha reflexão sobre o sistema financeiro, são diversos tópicos, uns ligados entre si e outros nem por isso… no fundo é tudo economia.
A Ganância
Eu sempre fui um defensor das criptomoedas, mas com o passar do tempo, a minha admiração tem desvanecido. O Bitcoin foi uma lufada de ar fresco para os mercados financeiros, surgiu em plena crise mundial ( oriunda de um sistema bancário totalmente ganancioso e corrupto ), Satoshi criou um sistema completamente fechado e incorruptível, como se provou com o passar do tempo. Ao contrário do que muita gente pensa, consideram o Bitcoin como um sistema velho, quase inalterado, em relação às novas gerações de criptoativos. A meu ver é isto a grande vantagem do bitcoin, teve poucas alterações, mantendo o seu espírito cyberpunk, como foi criado. Ao contrário de outros, que tem sofrido atualizações com o principal objectivo de valorizar os seus tokens, sacrificando a sua função primordial, ser útil à comunidade.
Os críticos do bitcoin consideram que não tem funcionalidade, mas na minha opinião a função é de reserva de valor, com um sistema totalmente seguro e estável. É igual para as pessoas que entraram em 2009 como para as que entraram 2019, estão sujeitas às mesmas regras, não interessa a que altura que tu entras, as regras não são alteradas a meio do “jogo”. Outros ativos mudam quando lhe apetece para beneficiar uns, prejudicando outros, como acontece no sistema financeiro tradicional.
Satoshi criou uma moeda justa, segura e útil, nunca com o objetivo de ficar rico, certamente ele nunca pensou que o bitcoin atingiria tal valor.
Penso que falta este espírito naife nos programadores, depois do sucesso do bitcoin, a maior parte dos programadores criam projetos, com o objectivo de ficar rico, basta olhar para as milhares de criptoativos existentes, tem uma “única” função, gerar uma enorme valorização e depois o projecto morre, ou seja, gerar um enorme lucro aos primeiros que entram, conclusão: são simplesmente pirâmides financeiras. Atualmente, com poucas excepções, o mercado de criptoativos já estão tão corrompidos e gananciosos como os mercados de capital tradicionais.
Mas a ganância vem dos dois lados, de quem possui como de quem criou os criptoativos. Em todo lado vemos sempre a mesma questão, “se o projecto tem potencial de crescimento?”. As pessoas não querem saber se aquele criptoativo será útil, só querem saber se vai valorizar muito, só querem enriquecer rapidamente e sem trabalho, sem qualquer escrúpulos e com a ganância atroz.
Ethereum vs Cardano or Solana
O Ethereum quando surgiu foi uma lufada de ar fresco, era um projecto que tinha utilidade e com o tempo surgiu nos seu ecossistema, o DeFi e os NFT, altamente úteis.
Mais tarde, surgiu vários ecossistema semelhante à Ethereum, como Cardano, Solana ou outras, mas isto é uma mercado tão volátil que tudo muda rapidamente.
Eu nunca dei muita importância a estas novas, por uma simples razão, porque o humano é um ser de hábitos e que detesta mudar. O Cardano até poderá ser tecnologicamente melhor, mas o Ethereum já domina largamente o mercado e dificilmente as pessoas vão mudar para Cardano, o Cardano não passaria de uma Litecoin, só será um sucesso se o Ethereum falhar.
Mas com a recente actualização, a Ethereum está a dar completamente um tiro nos pés, prometiam baixar o custo do GAS e nada aconteceu, pelo contrário, ainda aumentou. Atualmente, custa mais de 200$ para criar um NFT, está estupidamente caro. À mais de um ano que não é possível fazer NFT e contratos DeFi devido os custos, a rede está completamente em standby. E para piorar a nova atualização do Ethereum, trouxe deflação, ou seja, vai eliminado ether diariamente, com o passar do tempo existem menos Ether, e claro o preço irá aumentar.
Eu estou a chegar à conclusão que esta actualização tem como principal o objectivo de valorizar a moeda, prejudicando toda a rede e poderá ser uma oportunidade para o Cardano.
Regulamentação
Uma parte significativa da comunidade é contra a regulamentação, especialmente a velha guarda, mas eu sou a favor. Durante muitos anos os países deixaram criptoativos num limbo, estes cresceram tanto que agora já não podem ignorar, ou proíbem ou aceitam. Devido à dimensão do mercado, já é muito complicado proibir, é mais fácil aceitar mas com muita regulamentação.
Começam a aparecer os primeiros sinais de regulamentação dos criptoativos. Os governos já falam, entre si, em criar regras comuns e a Binance começou a dar os primeiros passos nessa regulamentação antecipando aos governos.
- Obrigação da identificação dos utilizadores, porque na UE é obrigatório uma identificação para abrir uma conta bancária.
- Redução da alavancagem nos contratos de futuros, e ainda bem, era completamente estupido uma alavancagem de 100x, mas a ganância é tanta que muita gente usava.
O que a Binance fez agora, outras exchanges terão que fazer, certamente que no futuro terão que comunicar à finanças o patrimônio dos utilizadores e claros teremos que pagar os impostos, como é normal. O que fica com o futuro incerto são as vendas em P2P em app com anónimos, não faço ideia como resolver este problema.
Agora vou fazer uma projeção do futuro, isto é apenas a minha opinião.
- DeFi, tenho algumas dúvidas sobre o seu futuro, porque a Banca vai pressionar os governos, por concorrência desleal, não faço ideia como vão fazer. No mínimo terão de pagar o imposto de selo do lucro do juros.
- Com a entrada das CBDC, os bancos centrais vão proibir por completo as stablecoin do mercado, substituído pelas suas CBDC. Aqui surgirá certamente o problema do Tether, mais à frente nos post eu vou falar.
- O Monero, Dash, Zcash e outros criptoactivos com sistemas não rastreáveis, certamente serão proibidos. Os criptoactivos obrigatoriamente terão de ser rastreáveis.
Para aqueles que dizem que é impossível proibir o bitcoin ou outro criptoactivo em blockchain descentralizada, sim tecnicamente é quase impossível bloquear o bitcoin, mas pode ser fortemente dificultado o acesso a aquisição destes ativos. Não podemos esquecer que o bitcoin só atingiu esta dimensão, graças aos sistemas atuais de pagamentos: VISA, Mastercard, IBAN, Paypal e etc, sem eles seria muito mais lento e mais difícil o crescimento do bitcoin. A única maneira para comprar e vender bitcoin seria por P2P, é um sistema muito pouco utilizado.
Os bancos centrais vão licenciar as exchanges e só estas terão acesso aos sistemas de pagamentos, e é através das exchanges que os bancos centrais vão limitar o acesso aos ativos.
Tether
Com a entrada das CBDC, os Tether e as outras stablecoin serão proibidas e claro substituídas pelas CBDC dos bancos centrais.
Aqui poderá surgir o problema do Tether, há muitos anos que a comunidade dúvida se existem reservas suficientes que servem de lastro.
Isto é algo que eu não consigo compreender, às muitos anos que existem a dúvida e a comunidade não acaba com o problema, as exchenge à muito deviam estar a diminuir a exposição ao Tether e substituído por outra stablecoin com contas auditadas e confirmadas. Elas fazem é o contrário, cada vez são “impressos” mais Tether, neste momento são mais de 65.6 Mil Milhões de dólares, é um número monstruoso, é quase o valor que Portugal recebeu do resgate da troika.
Futuro da Banca Tradicional
As CBDC também vai provocar um tsunami na banca tradicional(BT), é um assunto que tem que ser tratado com pinças. Na minha opinião o sistema de CBDC, terá que ser feito por etapas, será criado um sistema intermédio.
Imaginemos que o banco central europeu(BCE) criar um sistema similar ao bitcoin, ou seja, o BCE cria a blockchain e a Wallet para o cidadão comum, as pessoas começam a guardar o dinheiro (especialmente as contas à ordem) diretamente no BCE, dispensando o intermediário (BT), porque tem garantia completa do depósito, enquanto na BT só até 100mil e os juros quase nulos. Isto poderá provocar uma fuga em massa do dinheiro da BT para a wallet do BCE, e nós sabemos bem o que aconteceu ao Banif, agora imaginemos o que acontecerá às economias se todos os bancos falirem.
Como em Portugal é um país muito envelhecido e com muita infoexclusão, a fuga dos capitais talvez seja menor que nos resto dos outros países da zona Euro.
Mas isto é muito arriscado e o BCE é muito conservado, por isso eu acredito que será criado um sistema intermédio. O BCE cria a blockchain e cada BT irá criar a Wallet personalizada, ou seja, o cidadão comum não terá acesso direto ao BCE.
Actualmente os BT já tem apps e sistemas homebanking, assim para o cidadão comum iria mudar pouco, em vez de usar o sistema SWIFT em transferências (algo que à muito tempo que EU quer reduzir a dependência do SWIFT) passa a usar o sistema próprio, a grande vantagem é que o dinheiro é transferido “instantaneamente” para as nossas contas, mesmo sendo de outro banco ou mesmo de outro país.
O que muda mais é nos sistemas back-end da BT, em vez de uma base de dados própria com os movimentos, passa a existir apenas uma base de dados comum, a blockchain, que será responsabilidade do BCE.
O mais complicado será o aumento das reservas, atualmente a BT tem uma minúscula percentagem dos depósitos a prazo nos cofres do Banco Central como reserva, essa percentagem terá de aumentar gradualmente até chegar aos 100%… Vamos ser honestos, a medida que está neste parágrafo é mais o meu desejo, seria uma realidade num mundo perfeito, correto e justo, mas estes adjectivos são o oposto da realidade da economia. Nada nas reservas mudará, ficará tudo na mesma.
E mais tarde, BCE criará a sua própria wallet mas claro com o serviço básico (enviar e receber dinheiro), com um objectivo claro, para pessoas ou empresas estrangeiras de fora da zona euro.
As wallet da BT não terão limitações, poderão ter muitas outras funcionalidades/serviços, como criar contas poupança, PPR, papel comercial e muitos outros serviços que atualmente já existem na banca.
Depois desta reflexão económica-tecnológica, agora é as consequência sociais, irá provocar mais desemprego na banca e mais balcões a fechar. E isso provocará um efeito perverso, porque as pessoas que menos vão usar essas tecnologias são os mais velhos e do interior do país e serão os balcões do interior os que mais vão fechar.
Jogos
Na grande maioria das coisas, eu tenho uma opinião diferente da comunidade, mas neste caso, eu concordo, o próximo HYPE nos cryptoactivos vai ser os NFT dos jogos.
Mas eu tenho uma visão um pouco diferente da restante comunidade, vai haver uma crescimento nos NFT de jogos mas não vai ser nos ecossistemas já existentes. Na minha opinião a indústria de jogos (principalmente os grandes jogos) irá criar uma própria blockchain, porque a indústria também está tão gananciosa e não está disponível para partilhar os lucro, como os mineradores desse ecossistema.
Eu sei que já existe o jogo Axie Infinity, e isso só comprova o que eu penso, o Ethereum não é um bom sistema para os grandes jogos, poderá ser bom para alguns casos particulares, ou alguns jogos Indies. Mas para os jogos de grande escala não vai acontecer. Sem entrar em pormenor como é o jogo, o básico é, no início bastava 5$ para começar a jogar, agora são necessários mais de 1000$, devido ao elevado custo está a limitar o crescimento do números de jogadores. Os grandes jogos não querem estar sujeitos a isto, porque o core business deles é os sistemas de microtransações das skins/personagens.
Eu acredito que várias indústrias de jogos vão se juntar e criar uma empresa independente que irá desenvolver e manter a blockchain, criar uma loja e o sistema de pagamentos.
Vou aprofundar o meu pensamento:
Como case-study vou usar as skins do CS-GO, criado pela Valve, porque já existem há alguns anos e como tem um sistema semiaberto de skins, permitiu a criação de um mercado secundário de venda/compra de skins entre os jogadores, que movimenta muito milhões por dia, possivelmente tanto dinheiro quanto a Valve ganha no mercado primário.
Os preços das skins nos mercado secundários baseia-se no sistema da procura e oferta, se uma skins é muito rara pode valer vários milhares de euros e as skins comuns podem valer poucos cêntimos.
Agora imaginemos as skins na rede Ethereum, um jogador compra uma skin de 1€, mas tem de pagar mais 8€ no mínimo porque o GAS é muito caro, ou seja, os donos do jogo ganham uma pequena percentagem, isso é impensável para eles.
A indústria dos jogos também não está disponível para aceitar a volatilidade do ether, eles certamente vão criar um ecossistema (talvez nem poderemos chamar de blockchain) com uma moeda própria mas lastrada em dólares e que o fee será baixo, uma pequena percentagem. O registo do NFT será possivelmente gratuito, e nas transações terá um sistema semelhante aos NFT na Ethereum, o seu valor será dividido em 3 partes, este é o meu palpite:
- 70% para o dono do NFT
- 28% de royalties para o criador do NFT
- 2% de fee
O único percentagem fixa é o fee, a criadora do jogo/NFT poderá alterar as percentagens, mas este é o meu palpite. E claro, que no mercado primário a dona do jogo recebe 98% do valor, depois no mercado secundário receberá perpetuamente 28%.
No caso do CS-GO a Valve não ganha royalties do mercado secundário, é nestes royalties que fará a revolução na indústria dos jogos. Imaginemos neste mercado secundário (similar ao OpenSea), onde milhões de jogadores vendem e compram skins entre si, vai gerar milhões em royalties e como aconteceu no CS-GO algumas skins poderão valer alguns milhares de euros.
E claro que também devem manter os registos públicos dos antigos donos, por isso será outra fonte de receita, imagine uma skin (até poderá de ser de baixo valor) mas como já teve como dono um jogador/streamer/influencer famoso, o valor subirá mais alto, gerando mais dinheiro à dona do jogos. E também uma nova fonte de rendimento ao influencer, que puxará mais gente ao jogo, é um WIN-WIN.
Eu por acaso até tenho muitas outras ideias, mas não vale a pena prolongar tanto neste post, isto é um novo mundo, um diamante bruto, que pode gerar muito milhões.
Para finalizar, apesar de eu saber que pouca gente vai ler isto, mas eu gosto de expor o meu pensamento para mais tarde recordar, para acompanhar a evolução do pensamento e também para ver se acertei em alguma previsão. O mundo crypto é tão rápido, frequentemente ajusto ou mudo de opinião.
PS: Se encontrarem alguns erros, é normal, a minha grave dislexia fica ainda mais evidente em textos mais longos.